População de Humaitá sofre com aumento na tarifa de água para pagar dívida com Amazonas Energia

População de Humaitá sofre com aumento na tarifa de água para pagar dívida com Amazonas Energia

Humaitá (AM) – O Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE-AM) aceitou uma representação contra o prefeito de Humaitá, Dedei Lobo, por falta de transparência no reajuste da tarifa de água. A investigação também atinge presidente da Companhia Humaitaense de Águas e Saneamento Básico (Cohasb), Renan Castro Maia e a Câmara Municipal.

Fonte: Diário Oficial do TCE-AM

Segundo o denunciante, não houve informações sobre o percentual do aumento nem qualquer público para embasar o reajuste, que passou para R$ 38,76, e foi aprovado pela Câmara Municipal, sem transparência, sem justificativa técnica clara e sem divulgação acessível à população.

“O aumento, vigente aprovado na câmara municipal de Humaitá no valor a partir de R$ 38.76 centavos sem a devida e transparência justificativa convincente sem falta de clareza na divulgação do reajuste e os valores exorbitantes têm gerado insatisfação e dificuldades para os consumidores entenderem quais seriam as melhorias de fato que haveria no fornecimento de água”, diz o denunciante no documento enviado ao TCE-AM.

Ainda segundo o denunciante, não houve publicação oficial no Diário Oficial do Município com justificativa técnica do aumento, como exige a legislação (Lei 11.445/2007 e normas da ANA). Os portais oficiais da Prefeitura e da Cohasb também não disponibilizam informações, descumprindo o dever de transparência pública.

Reajuste para encobrir “rombo”

Um dos motivos apresentados pelo diretor-presidente da Cohasb para justificar o reajuste seria o alto índice de inadimplência, que, segundo ele, chegaria a 60% dos usuários. A informação foi mencionada publicamente em audiência na Câmara Municipal e reforçada pela própria gestão da autarquia. No entanto, especialistas e a legislação brasileira apontam que a inadimplência não pode ser utilizada como fundamento para reajustar tarifas, já que isso transfere aos consumidores adimplentes o peso de uma má gestão financeira interna.

Fonte: TCE-AM

Segundo o Código de Defesa do Consumidor e com o Marco Legal do Saneamento, é ilegal socializar o prejuízo causado por usuários que não pagam suas contas, repassando esse custo para toda a população. A prática é considerada abusiva porque distorce o equilíbrio econômico do serviço e penaliza justamente quem paga suas faturas em dia. Na denúncia apresentada ao TCE-AM, essa manobra é apontada como uma tentativa de encobrir um possível “rombo” na autarquia, que também acumula dívidas milionárias com a Amazonas Energia.

A suspeita de que o aumento da tarifa serviria para cobrir déficits financeiros é reforçada pelo fato de que a administração municipal não apresentou estudos técnicos, planilhas de custos ou relatórios de investimento que justifiquem o reajuste. Apesar de a Prefeitura argumentar que há dez anos não ocorria atualização tarifária — conforme consta na justificativa do projeto enviado à Câmara — a ausência de transparência, somada às dívidas superiores a R$ 35 milhões e à elevada inadimplência, levanta dúvidas sobre a real finalidade do aumento. Para o denunciante, a medida seria uma forma indireta de repassar à população a responsabilidade por falhas históricas na gestão da Cohasb.

Má gestão da autarquia

Outro ponto destacado no documento é que o presidente da Cohasb, Renan Castro Maia, estaria há mais de uma década no cargo, mesmo já tido as contas reprovadas no TCE-AM, o que reforça suspeitas de problemas de gestão administrativa. A reprovação foi referente ao exercício de 2021.

Renan Castro Maia foi multado em quase R$ 23,9 mil por irregularidades graves de ordem patrimonial, operacional e contábil. A conta julgada irregular ainda foi considerada em alcance no valor de aproximadamente R$ 17,6 mil por bens sem comprovação documental e física de equipamentos de informática, assim como uma motocicleta. Também não foram comprovados valores referentes a diárias de servidores por meio de atos concessivos, provas de deslocamentos e relatórios de atividades.

Fonte: TCE-AM

Outro ponto destacado no documento é uma suposta dívida milionária que a Cohasb tem com a Amazonas Energia. A denúncia afirma que a má gestão levou ao endividamento, e agora a administração estaria jogando o custo para o consumidor. No documento enviado ao TCE-AM, foi anexado uma conta da Cohasb na Amazonas Energia no valor de R$ 35.868.540,59.

Para o denunciante, mesmo após convênios da prefeitura com a Cohasb, não foram apresentadas melhorias concretas no serviço. Não há registro de investimentos, expansão de rede, tratamento ou ações para resolver problemas antigos.

A denúncia também aponta que a Câmara, presidida pelo vereador Manoel Domingos, aprovou o reajuste sem transparência, sem audiência pública clara, e sem documentos que demonstrassem o impacto do aumento. Há menção a vídeo de audiência pública onde vereadores comentam a inadimplência — mas sem embasamento técnico divulgado.

No vídeo da audiência transmitida ao vido pelas redes sociais, o professor da Universidade Federal do amazonas (Ufam), Marcelo Rodrigues do Anjos, questionou que a solução para melhorar o serviço de abastecimento de água seria o reajuste da tarifa.

“Algumas coisas me preocupam, por exemplo, instrumentalizar, majorar uma tarifa, ela seria mesmo a solução, porque a gente tem que pensar em questões… É o abastecimento o problema? É simplesmente o bastecimento? Outra questão, o projeto de lei, todo recurso que vai ser recebido com o aumento dessa tarifa vai ser empregado em infraestrutura e melhora do abastecimento e tratamento de água em 100%?”, questionou.

Diante da possível violação de princípios da administração pública, em que o reajuste viola a legalidade, transparência e a proteção do consumidor, o denunciante pediu, a suspensão imediata do aumento, por suspeita de abuso, auditoria urgente na Cohasb e punição aos responsáveis caso a ilegalidade seja confirmada.

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