prefeito de Manaus investe em imagem, não em árvores

David Almeida

Manaus (AM) – Enquanto o prefeito David Almeida (Avante) posa para fotos ao lado de mudas recém-plantadas e vereadores aliados repetem discursos prontos sobre “consciência ambiental”, a realidade das ruas de Manaus revela uma cidade sufocada pela incoerência. Na capital que abriga o “Parque Gigantes da Floresta”, falta o essencial: árvores.

Na última terça-feira (3), o vereador Carlos Pai Amado (Avante) participou da abertura do programa Junho Verde – Manaus Mais Ambiental, promovido pela Prefeitura em alusão à Semana do Meio Ambiente. O evento, realizado às margens do poluído Igarapé do Mindú, marcou o plantio simbólico de uma muda frutífera e foi usado para destacar “a importância da responsabilidade individual e coletiva diante da emergência climática”.

Mas enquanto a propaganda institucional do prefeito insiste em pintar uma cidade verde, os dados do Censo 2022 mostram outra cor: o cinza. Apenas 44,8% da população urbana de Manaus vive em ruas com ao menos uma árvore, segundo o IBGE. Um número vergonhoso para uma cidade situada no coração da maior floresta tropical do planeta — e que ainda perde para capitais como Porto Velho (64,9%) e Boa Vista (52,6%).

A ironia se aprofunda quando se analisa o símbolo da suposta política ambiental da Prefeitura: o Parque Gigantes da Floresta, um espaço que, apesar do nome, praticamente não possui árvores nativas. Com esculturas da fauna amazônica e uma imensa “Árvore da Vida” cenográfica, o local mais parece um set de filmagem do que um parque ecológico. O concreto tomou o lugar da floresta. “Gigantes da Floresta, Manaus não tem árvore” já virou meme e lamento entre ambientalistas e moradores da cidade.

Nessa quarta-feira (9), o prefeito anunciou um conjunto de novos equipamentos que, segundo ele, representa um “salto de 50 anos” na arborização de Manaus. A ação, liderada pela Semmas, incluiu o plantio de mudas frutíferas nativas e a promessa de mecanização do processo, com a meta de 15 mil mudas plantadas até dezembro. A declaração reforça o discurso institucional de sustentabilidade e reflorestamento urbano, mas contrasta com a realidade concreta do parque e da cidade.

A contradição ambiental da Prefeitura ganhou contornos ainda mais explícitos quando o Ministério Público do Amazonas (MP-AM) barrou, por decisão judicial, uma obra de alvenaria da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Mudanças Climáticas (Semmasclima) em plena área verde da cidade.

O projeto previa a construção da nova sede da secretaria em um espaço que exigiria a derrubada de árvores — exatamente o oposto da função institucional do órgão. A Justiça considerou o projeto ilegal e suspendeu a obra, em uma decisão que escancarou a incoerência da atual política ambiental municipal.

Em resposta às críticas sobre a construção da nova sede da Secretaria Municipal de Meio Ambiente em área verde, o secretário Fransuá Matos minimizou as denúncias, afirmando que partiram de “um grupo muito pequeno” e que esses cidadãos “não têm noção do prejuízo que causaram a Manaus” ao acionar os órgãos de controle.

A obra foi suspensa pela Justiça em junho, após recomendação do Ministério Público do Amazonas, e também foi alvo de questionamentos do Tribunal de Contas do Estado, que identificou irregularidades no projeto. Segundo o secretário, a intervenção foi necessária para atender às demandas da pasta, e apenas nove árvores teriam sido suprimidas — número que ele considera distante das alegações de desmatamento em larga escala.

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