Manaus (AM) – O Instituto Vladimir Herzog (IVH) protocolou nesta quarta-feira (28) uma representação no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado Federal contra os senadores Marcos Rogério (PL-RO), Omar Aziz (PSD-AM) e Plínio Valério (PSDB-AM), por conta de suas condutas durante uma audiência com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), na última terça-feira (27), na Comissão de Infraestrutura do Senado. A informação foi divulgada pela Folha de S. Paulo e compartilhada nas redes sociais pelo Instituto.
Segundo o IVH, os parlamentares protagonizaram episódios de “ofensas contra uma mulher e ministra de Estado”, em um contexto de tensão política envolvendo a criação de áreas de preservação ambiental na região da Foz do Amazonas, onde o governo federal estuda a viabilidade de exploração de petróleo.
“O Instituto se sentiu na obrigação de entrar com uma representação junto ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e à Comissão de Ética, para que todas as medidas sejam tomadas contra os senadores Marcos Rogério e Plínio Valério pelas ofensas que cometeram contra uma mulher e ministra de Estado”, declarou o diretor-executivo do IVH, Rogério Sottili.
Debate acalorado
A audiência se transformou em um embate político marcado por interrupções, hostilidade e falas de teor misógino, segundo apontam entidades e analistas.
Durante a sessão, o senador Omar Aziz (PSD-AM) criticou Marina Silva por sua posição contrária ao asfaltamento da BR-319, afirmando que a ministra estaria “atrapalhando o desenvolvimento do país” e demonstrando “intransigência e falta de vontade de dialogar”.
A ministra pediu ao presidente da sessão, Marcos Rogério, o direito de resposta, mas teve a fala negada — e depois limitada a apenas um minuto. Quando tentou retomar a palavra, foi novamente interrompida por Rogério, que ironizou a situação e afirmou que “isso poderia ser resolvido depois”.
Diante disso, Marina rebateu, afirmando: “Eu participo de um governo de frente ampla, não de uma ditadura que o senhor apoiou”.
Marcos Rogério reagiu com desdém: “Essa é a educação da ministra Marina Silva”. Ao que Marina respondeu:
“Você gostaria que eu fosse uma mulher submissa, e eu não sou”.
A discussão atingiu seu ápice quando o senador Marcos Rogério disse, olhando para a ministra: “Me respeite, ministra. Se ponha no teu lugar.”
Ofensa direta e histórico de ataques
Logo em seguida, o senador Plínio Valério tomou a palavra e iniciou sua fala com uma declaração que gerou forte repercussão:
“Ao olhar para a senhora eu estou vendo uma ministra, não estou falando com uma mulher. Porque a mulher merece respeito, a ministra, não. Vamos separar.”
Marina Silva reagiu, dizendo que se tratava de uma fala desrespeitosa e exigiu um pedido de desculpas. Como não foi atendida, a ministra deixou a audiência antes do encerramento.
Plínio Valério já havia feito declarações polêmicas contra Marina meses antes, quando disse que “enforcaria” a ministra durante uma entrevista.
Repercussão e apelo por responsabilização
A representação do IVH destaca que as falas dos senadores configuram violência política de gênero, além de quebra de decoro parlamentar. O Instituto afirma ainda que é necessário “dar um basta” a esse tipo de comportamento dentro das instituições democráticas.
“Esse tipo de ataque não pode ser normalizado. É um atentado contra os princípios da democracia e da igualdade de gênero”, disse Rogério Sottili.
A Comissão de Ética do Senado ainda não se pronunciou sobre a tramitação do pedido.
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