Manaus (AM) – O município de Jutaí, no interior do Amazonas, tornou-se símbolo de crise profunda, tanto na esfera administrativa quanto política. Em meio à deflagração da Operação Caixa Alta, da Polícia Federal, que investiga um suposto esquema de corrupção eleitoral milionária durante as eleições de 2024, Jutaí aparece entre os dez piores municípios do Brasil no ranking do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) — um retrato assustador do abandono da cidade.
Com apenas 0,1802 ponto, Jutaí ocupa a 5.547ª colocação entre os 5.570 municípios brasileiros, superando apenas três cidades no país. Os dados, referentes ao ano-base de 2023, revelam que o município vive uma situação de desenvolvimento crítico, com colapsos simultâneos em Educação (0,2834), Saúde (0,0927) e Emprego & Renda (0,1646) — níveis alarmantes que expõem a dura realidade da população local.

O município possui um Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de apenas 0,516, considerado baixo, segundo dados de 2010. Com uma população estimada em 15.824 habitantes e uma densidade demográfica de apenas 0,23 habitante por km², Jutaí enfrenta grandes desafios de acesso e oferta de serviços públicos. O PIB per capita é um dos menores do país, estimado em apenas R$ 8,12 mil anuais, o que reflete o cenário de extrema vulnerabilidade econômica da população local. A imensidão territorial — mais de 69 mil km² de extensão — agrava ainda mais a precariedade da gestão pública em uma das regiões mais isoladas do Amazonas.

O escândalo político explodiu em setembro de 2024, quando a PF apreendeu cerca de R$ 800 mil em espécie escondidos dentro de pacotes de encomenda em um jatinho fretado no Aeroclube de Manaus. Segundo a investigação, o voo tinha como destino o município de Fonte Boa, mas teria sido fretado pela Prefeitura de Jutaí, à época comandada por Pedrinho (PDT), que tinha como vice Mercedes Vargas, eleita prefeita naquele mesmo pleito pelo União Brasil.
Agora, Mercedes está no centro das investigações. A PF cumpriu nove mandados de busca e apreensão em Manaus e Jutaí, mirando agentes ligados à antiga gestão. Celulares, documentos, dinheiro e eletrônicos foram recolhidos. Os investigados poderão responder por crimes como corrupção eleitoral, caixa dois, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.
Além da operação, Jutaí também está enrolada com o Tribunal de Contas do Amazonas (TCE-AM). O órgão emitiu alerta por excesso de gastos com pessoal, após o município destinar R$ 60 milhões com folha de pagamento, o que representa 57% do orçamento — acima do limite da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), de 54%.
E os escândalos não param por aí. Em 2022, o TCE-AM também julgou irregulares as contas da Câmara Municipal de Jutaí referentes a 2018, sob responsabilidade de Jozinaldo Ferreira Candido, que foi multado em mais de R$ 92 mil por uma série de irregularidades, incluindo falta de transparência, omissão de balancetes e fragilidade na estrutura da Comissão de Licitação.
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