Mundo – O Nepal viveu nesta terça-feira (9) um dos capítulos mais sombrios e violentos de sua história recente, com a escalada dos protestos liderados pela Geração Z resultando na morte de Rabi Laxmi Chitrakar, esposa do ex-primeiro-ministro Jhalanath Khanal.
A onda de violência, que já matou mais de 20 pessoas em dois dias, levou à renúncia do premiê KP Sharma Oli, mas não foi suficiente para acalmar a fúria popular que tomou as ruas da capital.
De acordo com relatos de familiares ao jornal Khabar Hub e confirmados por líderes partidários, a residência do casal no bairro de Dallu, em Katmandu, foi incendiada por manifestantes enquanto Ravi Laxmi estava dentro.
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Ela sofreu queimaduras graves e foi resgatada por militares, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no hospital.
Vídeos circulando nas redes sociais, cujo bloqueio foi o estopim da crise, mostram a mulher sendo atendida no chão por socorristas.
Não há informações sobre o paradeiro de Khanal, de 75 anos.
A Fagulha da Revolta

Os protestos massivos eclodiram na última segunda-feira (8), inicialmente contra a decisão do governo de bloquear o acesso a plataformas como Facebook, Instagram, WhatsApp, X e YouTube.
O governo de Oli justificou a medida alegando que as empresas não cooperavam com a Justiça local para combater discurso de ódio, notícias falsas e fraudes propagadas por perfis falsos.
No entanto, para milhares de jovens nepaleses, a censura digital foi a gota d’água após anos de frustração com a corrupção endêmica e a grave crise econômica que assola o país.
O desemprego entre jovens de 15 a 24 anos chega a 20,8%, forçando milhões a emigrar para países do Oriente Médio e Ásia em busca de trabalho. O slogan dos protestos resume o sentimento: “Bloqueiem a corrupção, não as redes sociais”.
Violência e Resposta Letal

Os atos inicialmente pacíficos rapidamente se tornaram violentos. Na segunda, confrontos em frente ao Parlamento terminaram em tragédia quando a polícia abriu fogo contra a multidão.
Autoridades hospitalares confirmaram pelo menos 19 mortos apenas na capital, com centenas de feridos. Organizações internacionais, incluindo a ONU e a Anistia Internacional, condenaram o uso desproporcional da força e exigiram uma investigação independente.
A renúncia de Oli nesta terça, alegando buscar “uma solução política”, foi vista como muito pouco e muito tarde. Manifestantes, insatisfeitos, invadiram e incendiaram o prédio do Parlamento.
Além da casa de Khanal, a residência do próprio Oli e a do ministro das Finanças, Bishnu Prasad Paudel , que foi perseguido e espancado na rua, também foram atacadas.
O caos se espalhou: dois aeroportos foram danificados, hotéis de rede internacional como o Hilton foram alvejados, e o Aeroporto Internacional de Katmandu, principal porta de entrada do país, foi fechado devido à fumaça dos incêndios.
Cenas de civis portando rifles de assalto pelas ruas e o ataque a ambulâncias e viaturas ilustraram o colapso da ordem.
Cenário de Incerteza

Em meio ao caos, o Exército do Nepal emitiu um comunicado assumindo a responsabilidade pela lei e ordem no país a partir das 22h (horário local).
Um toque de recolher foi imposto em áreas estratégicas, e o Ministério da Saúde fez um apelo urgente por doações de sangue.
O presidente Ram Chandra Paudel aceitou a renúncia de Oli e iniciou o processo para escolher um novo primeiro-ministro. Entretanto, a instabilidade política é profunda.
Desde o fim da monarquia em 2008, o país viu mais de uma dúzia de governos, mas nenhuma crise desta magnitude.
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